Estímulo à criatividade, segurança emocional e vínculo afetivo estão entre os benefícios do brincar espontâneo; entenda como adotar boas práticas
Por Ioná Piva Rangel | Assessoria de Imprensa e Comunicação
Ansiedade, estresse e depressão não são mais sintomas de doenças de adultos. Crianças também estão sendo diagnosticadas e tratadas com problemas relacionados a transtornos de comportamento.
Especialistas alertam que a falta de tempo e de estímulo ao brincar está diretamente ligada ao crescimento desses quadros.
“Quando uma criança brinca, ela elabora emoções, cria soluções, ensaia relações sociais e constrói segurança sobre o mundo à sua volta. O brincar é a linguagem da infância. Sem isso, a criança adoece emocionalmente”, explica a pedagoga Maria Malerba, diretora pedagógica e pesquisadora do tema.
Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, a exposição da criança ao tipo de estresse tóxico (quando é submetida a adversidades por um longo período sem apoio), por exemplo, pode ocasionar prejuízos no aprendizado, no comportamento e na saúde ao longo da vida.
Em um mundo cada vez mais acelerado, conectado e exigente, o simples ato de brincar pode parecer banal.
Mas para crianças em fase de desenvolvimento, o brincar livre — aquele que não tem regras rígidas nem finalidades específicas — é essencial não apenas para o aprendizado, mas também para a saúde emocional.
“A criança precisa de tempo para imaginar, experimentar e repetir. Esse processo é o que fortalece sua confiança e constrói sua autonomia. E tudo isso acontece enquanto ela brinca”, afirma a pedagoga.
Maria reforça que na escola, em momentos ao ar livre é de grande importância o estímulo ao brincar — com massinha, areia, água, blocos, tecidos ou apenas o corpo e o espaço — pois permite que a criança explore o mundo com liberdade, sem a cobrança de resultados.
Colaboração da família
Além da escola, os especialistas destacam o papel fundamental das famílias. “É essencial que os pais também deem espaço seguros para essa criança brincar em casa. A presença do adulto, sem estímulos, sem a necessidade de ensinar, buscando conexão afetiva e presença”, defende Maria Malerba.
Segundo ela, quando um adulto se disponibiliza a entrar e permitir que o universo simbólico da criança aconteça, uma ponte de segurança, confiança e afeto acontece.
“Isso vale mais do que qualquer brinquedo caro”.
As rotinas escolares exigentes, a violência das cidades e o uso abusivo de telas têm colaborado para a substituição de brincadeiras simples por conteúdos eletrônicos que nem sempre representam segurança e proteção às crianças.
Os dados da pesquisa TIC Kids Online Brasil 2024, que apresenta os principais resultados sobre o uso da internet por crianças e adolescentes no Brasil, mostram que 93% da população de 9 a 17 anos é usuária de internet no país, o que representa atualmente cerca de 25 milhões de pessoas.
5 dicas para estimular o brincar livre, por Maria Malerba:
1- Separe um tempo diário para estar com seu filho no momento do brincar, nem que sejam 15 minutos sem distrações e celular, possibilitando a brincadeira, participe ou não, mas sinta-se confortável nesse momento.
2- Evite interferir ao máximo na brincadeira: deixe a criança conduzir, criar personagens, mudar as regras, esse é o momento dela.
3- Ofereça materiais simples e abertos como panos, potes, folhas, caixas de papelão e massinha caseira e disponibilize nos espaços. Mas lembre-se: menos é mais. As crianças se perdem com o excesso de estímulo.
4- Reduza o tempo de telas e troque por atividades que movimente o corpo, ao ar livre, no quintal ou no parque.
5- Respeite o tempo e o ritmo da criança, sem apressá-la ou propor brincadeiras “educativas” o tempo todo. Essa cultura de produtividade e eficiência é dos adultos, nesta fase da vida, as crianças não precisam dela.
“Brincar é o modo mais saudável de crescer. Uma infância rica em brincadeiras livres é uma infância com mais escuta, mais vínculo e mais saúde emocional”, conclui a pedagoga.

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